2002, enquanto jovem recém chegado na maior idade, em minha ânsia de firmar-me safado, comecei a intentar minhas primeiras tentativas de conspiração: fazer elogios com mais frequencia às garotas, ser mais atencioso com elas tendo a noção de esconder o interesse, especialmente com aquelas de quem eu mais estava afim. Aprendi a fazer convites inusitados e com tranquilidade nas negativas: "vamos sair hoje?", "ah, não sei...", "tranquilo, fica pra uma próxima, beijos", e saía sozinho.

O mais curioso desse processo é entender como o corpo fala: da mesma forma que por vezes sentia minhas pernas bambas perante uma garota que me fascinava, elas demonstram um conjunto de movimentos contraditórios com os caras que lhe chamam a atenção. Como eu era meio burro, e ainda continuo assim, não compreendia que muitas vezes o desprezo de algumas revelava uma forte inquietação com minha presença, que em meio às piadinhas havia uma forma de chamar minha atenção. Como eu sempre fui "feio pacas", percebi que não era exatamente minha estatura física que me conferia charme, eu estava descobrindo que o poder de Zeca era conferido por alguma coisa que ele tivesse e que o fizesse único.
 
Ah saudades da velha Juventude Unida Sagrada Família - JUSF. Tínhamos um teatro que fazíamos todos os anos na época da páscoa sobre a paixão de Cristo, na qual utilizávamos uma gravação em CD e tão somente dublávamos as falas. Havia no teatro certa cena em que Jesus era acusado perante Pilatos, e quando este perguntava aos acusadores o que ele fazia de tão perigoso, diziam: "Conspirando senhor, conspirando". E aí meus caros, os Zecas encontraram uma expressão que virou história naquele bairro.

Marcada a frase de efeito, a "conspiração" tornara-se o lema dos Zecas. Era algo subversivo, com ares de pureza, mas extremamente perigoso, tal como o lobo em veste de cordeiro. Aquele que conspirava buscava aproximar-se da ovelha com leves toques, carinho, atenção, todavia sabia andar com os passos do lobo. Era a aplicação da estratégia Zeca em saber aproximar-se da pessoa que almejava seduzir sem levantar suspeitas, uma legítima conspiração.
 
Ainda em 2002, com uns 17 para 18 anos, a fim de arrumar uma saída para o sentimento de rejeição que havia desenvolvido por não ter minha expectativa respondida, encarei a afirmação de que "mulher gosta de cara safado", que era um dos nossos lemas zeca. Todavia não tinha como perceber, à época, que essa generalização era inútil e carecia de muitas revisões.

Disposto a tornar-me safado, pedi aos meus colegas que me sugerissem o que deveria fazer para que a garota que me rejeitou me notasse. Eles me disseram que o primeiro passo deveria ser aprender a viver sem ela, e que nada melhor para curar a dor de um velho amor com a de um novo amor. Assim, deveria aprender a conspirar...
 
No Bairro Cidade Industrial de Curitiba - CIC, tinha um grupo de rapazes que tentou sistematizar algumas propostas de seduzir mulheres, conhecido como o "Clube dos Zecas". Era algo bem mais complexo que um clube do Bolinha.

A principal diferença do Clube do Bolinha é que o nome Zeca era devido ao rótulo de "Zeca Urubu", quando o rapaz atacava a menina que recém chegava no pedaço, ao estilo de um urubu em busca de "carne nova". Mas o Zeca não era apenas um urubu, animal que agia por instinto. O reconhecimento de um Zeca exigia que esse soubesse agir com estratégia, analisando a situação em que iria meter-se.

Assim, todas as semanas, os Zecas reuniam-se em seu Q.G., o "cafofo do Nato", para contar como foram suas experiências, o que deu certo, o que deu errado, se tinha alguém no pé dele, se ele estava comendo caminhão de merda.

O rapaz gordinho, tímido, teve a oportunidade de conhecer em 2002 o clube Zeca de perto.
 
Nossa, talvez a questão mais complicada de se responder. Até mesmo porque tentei respondê-la pela primeira vez fazendo sua negação: "mulher não curte cara certinho". Até mesmo porque a fiz quando comecei a participar do grupo de jovens na igreja.

Em 2001 tinha uma garota por quem eu comia um caminhão de terra, linda fantástica, por quem eu estava loucamente apaixonado. E decidi fazer uma das coisas mais idiotas de minha vida: "declarar-me para ela". Hoje falo idiota porque poderia ter aprendido a falar apenas o essencial.

Então, eu era considerado por um monte de gente como o cara "certinho", ainda mais porque minha timidez tinha um quê de passar a impressão de um rapaz que era "diferente dos demais". Ah, como eu me f... por bancar o certinho: simplesmente por oferecer-me comi o pão que o diabo que amassou por aquela guria. Aí experimentei o período dos zecas...
 
Bem, por mais que aquelas dicas da Malhação fosse citadas por meus colegas de sala e amigos mais próximos, nunca deram certo. Aquelas coisas de dançar bonitinho, perfume, fazer piadas e outras frescuras nunca deram certo com o gordinho.

Meu primeiro beijo foi numa palestra da escola, que com o devido respeito aos mestres estava chata pra cassete! Cansado, saí pra dar uma voltinha, relaxar, espairar a cabeça. E qual não foi a surpresa ao ver aquela ruiva dando risada com suas amigas e me encarando?

Nossa, loucura total, fiquei relutante em chegar perto, mas sabia que se não o fizesse seria um completo idiota. Ainda bem que preferi naquele momento ter sido louco a idiota, ela curtiu minha atitude. Não tinha a mínima idéia do que conversar, a não ser a mesma razão de ela estar lá fora: "a palestra que estava um saco!".

A vida tem coisas que são difíceis de explicar, eu parei por um instante e falei que ela era bonita. E qual não foi meu prazer em vê-la ficar corada? Ah doçura dos flertes sinceros e ousados. Quanto mais medo nós temos, mais coragem colocamos para superar-nos.

Ah ha, e qual não foi a surpresa para aquele gordinho? Ter olhado para ela e ter pedido um beijo...

Bem, hoje vejo que "pedir beijo" é meio cafona, e nem sempre dá certo. Mas para o gordinho nos seus quase 15 anos, foi um mome
 
Ah doce lembranças da infância do "almôndega sexual", guri de 13 anos, gordinho, apaixonado por uma das meninas mais populares de sua sala. Lhe entreguei uma caixa de bombons no dia dos namorados, ela me telefona toda contente agradecendo-o. Eu, ansioso, perguntei se ela queria namorar comigo... Ah, como pude ser tão tolo? É óbvio que ela disse NÃO. Como pude achar que uma caixa de bombons seria capaz de cativar uma menina de 13 anos?

Refeito de meu "fracasso", tive de esperar mais alguns anos até realizar esse sonho de guri. E o melhor de tudo que o consegui fazê-lo ainda gordinho, todavia alguns anos tiveram de se passar...